A ditadura de Rick está mais viva do que nunca. Em um dos momentos mais surpreendentes da série até agora, Rick Grimes baniu Carol, assassina confessa, do grupo da prisão no último episódio intitulado “Indifference”.
O velho discurso sobre segurança de que “a união faz a força” ficou claramente em segundo plano, já que Rick mostrou ter preocupações maiores com a epidemia que tomou conta da prisão. Seria Carol merecedora de um voto de confiança de que não voltaria a matar, tendo como possíveis alvos inclusive os próprios filhos de Rick?
A produtora executiva da série, Gale Anne Hurd, conversou com a reportagem da Yahoo TV sobre o episódio, e reiterou o que Andrew Lincoln e Norman Reedus já haviam sinalizado: há muito mais reviravoltas por vir, todas imprevisíveis. “Eu garanto”, disse.
Este episódio, “Indifference”, por causa do dilema de Rick envolvendo Carol, deu a mesma sensação de transição monumental que algumas mortes de grandes personagens…
Sim. Nós temos uma certa tendência de fazer com que o quarto episódio da temporada… acabou meio que se tornando uma tradição de fazer algo de grande impacto no quarto episódio. Na temporada passada, tivemos a morte de Lori e do T Dog. Nesta temporada, o impacto também é enorme, mas de uma forma completamente diferente.
Quando Rick partiu em busca de suprimentos com Carol, ele já sabia que voltaria sem ela?
Eu acho que ele quis testar se ela estava arrependida, com remorso do que fez, ou se havia se tornado um perigo aos outros. Na minha opinião, a viagem teve uma conotação de procurar sentir melhor a Carol. Ao mesmo tempo, Rick abriu mão da liderança em detrimento do conselho até agora. Com a epidemia do vírus, claro, muitos membros deste conselho estão doentes, e Carol também faz parte dele. Com isso, pode ser que Rick tenha que centralizar as decisões nele mesmo de novo.
Na sua opinião, qual foi exatamente o momento em que Rick tomou a decisão?
Eu acho que foram vários os momentos. Um deles, na minha opinião, foi quando Rick percebeu que Carol estava totalmente disposta a deixar para trás o casal (Sam e Ana) que eles encontraram naquela casa, ao dizer: “Eles não estão aqui. Vamos embora.” (Rick começa a ponderar) Carol se tornou tão insensível a ponto de tomar uma decisão que pode resultar na morte de alguém da família dele ou do grupo? Esse mundo cruel transformou Carol, antes certamente uma das pessoas mais emocionalmente frágeis do grupo, e que antes do apocalipse zumbi era uma vítima, em uma pessoa fria e calculista?
Rick precisa colocar tudo isso na balança. Será que Judith estaria em segurança com ela? Daria pra confiar nela se fosse preciso delegar a responsabilidade pelo Carl? É uma linha tênue entre tomar a decisão certa e dura, e tomar a decisão errada.
O relógio parece ter sido uma peça chave também. Carol entregou seu relógio a Rick não como uma lembrança dela, e sim porque achou que ele estava triste por ter perdido o relógio quando Sam morreu…
Certo, o que não foi o caso, obviamente. Na cabeça dela, chegamos a um ponto em que as decisões pragmáticas se tornaram quase tão importantes quanto uma vida. Uma vida só tem valor… ela acha que há momentos em que se deve simplesmente desencanar.
E mesmo assim, em um nível puramente instintivo, de sobrevivência, a gente meio que entende a justificativa dela pelo que fez, não é?
Claro. Se você pensar bem, se tivesse funcionado, se a doença tivesse sido cortada pela raiz com as mortes de Karen e David, provavelmente teríamos enxergado tudo isso com outros olhos. Ou não. Mas a verdade é que não funcionou. Pensando melhor, o que ela fez não foi só errado, como também imperdoável.
Carol aceitou a decisão de Rick de ser banida da prisão de forma relativamente rápida e fácil, mesmo após ouvir que não poderia levar consigo Lizzie e Micah. Você não acha que foi meio rápido, meio fácil? Isso é sinal de que o tempo dela com o grupo não acabou?
Ela também foi rápida no gatilho quando assumiu a autoria dos crimes no episódio anterior [“Isolation”]. Carol se tornou extremamente pragmática. Não acho que ela esteja disposta a gastar energia defendendo suas ações ou discutindo. Ela sabia que as consequências viriam, e que seriam severas.
Basta lembrar que, na segunda temporada, eles estavam prestes a matar o Randall por receio de que ele escapasse da fazenda e alertasse os outros, o que poderia acabar em homens armados e estupradores no local. Chegaram quase a matá-lo por isso. Com certeza isso passou pela cabeça de Carol. Não era simplesmente o banimento em si.
A decisão de Rick foi tomada sem consultar os outros. Ele vai se arrepender disso?
Ele não teria conseguido manter aquilo em segredo se ela voltasse. Como os dois (Rick e Tyresse) já tinham saído no braço antes, com certeza passou pela cabeça dele que o Tyreese iria matá-la.
Mas não rola uma preocupação por parte do Rick de que o Tyresse vai enlouquecer de qualquer jeito quando descobrir que não vai ter a chance de estar cara-a-cara com a autora dos crimes por causa da decisão de Rick de excluí-la?
Naquela hora, ele fez o mais conveniente. Foi com certeza mais conveniente do que criar mais uma crise que acabaria traumatizando todo mundo. Imagina se ele chega dizendo: “Beleza, trouxe ela de volta. Foi ela quem matou. Ela já confessou. O que é que a gente faz agora?”. Eu acho que chega uma hora em que todo bom líder chama a responsabilidade para si e pensa: “vou colocar um ponto final nisso, e vai ser agora”.
Nesta temporada, já percebemos vários sinais de que a Michonne está mais disposta a se abrir, principalmente com o Daryl. Vamos ficar sabendo mais sobre o passado dela em breve?
É uma possibilidade muito grande. Já percebemos claramente que ela está começando a se abrir. Ela não é um personagem que só faz cara feia toda hora e não se abre.
Ela disse ao Daryl que está desistindo da ideia de procurar pelo Governador e que vai estar mais presente no grupo…
Eles tem problemas muito maiores agora. Quando estiver tudo em paz, quando a poeira baixar, aí ela volta a procurar por ele, seja por vingança ou simplesmente por hobby, mas não quando suas vidas estão em jogo.
Falando no Governador, os quatro primeiros episódios da temporada atual tem sido tão cheios de acontecimentos importantes que nós quase esquecemos dele, mas ele ainda está por aí, provavelmente aguardando o melhor momento de atacar, não é?
Temos muita coisa para contar, e temos muitos personagens. E isso é maravilhoso. Estamos tendo a oportunidade de conhecer os personagens de forma mais profunda, e de ver como eles reagem a outras ameaças, sem precisar recorrer ao Governador.
Era essa a ideia desde o início? Com o Tyreese, por exemplo, um personagem tão adorado nas HQs, cuja presença na série era aguardada ansiosamente, a ideia era fazer com que o público se familiarizasse com ele aos poucos, para que nesta temporada ele ocupasse um papel mais principal, menos coadjuvante?
A ideia sempre foi que o Tyreese desempenhasse um papel de maior destaque, mas na última temporada havia muitos personagens. É muito difícil acontecer de todo mundo sobreviver entre uma temporada e outra, mas se isso acontecesse, não teria como aumentarmos o elenco.
Já terminaram as filmagens da Quarta Temporada?
Não, ainda não.
Sabemos que a diretora de “Breaking Bad”, Michelle MacLaren, vai dirigir um dos episódios desta temporada atual. É o episódio final?
Sim, isso mesmo. Somos grandes fãs do trabalho dela.
Em uma entrevista recente concedida a uma revista britânica, George Romero disse que chegou a receber um convite para dirigir alguns episódios de TWD, mas que recusou a oferta. Qual foi o motivo disso?
Nós chegamos sim a conversar anteriormente. Ele basicamente disse que já havia criado seu próprio universo zumbi, e que a visão dele deste universo é diferente da nossa. Entendemos perfeitamente.
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De forma geral, como você descreveria o resto da Quarta Temporada?
O que eu posso dizer é que vocês não tem ideia do que vai acontecer. Eu garanto. (risos) E não me refiro a uma coisa só. É uma série de coisas.
